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Águas

O mais alto dos escalões da República, sua posição mais importante, de maior responsabilidade e poder, é reservado ao cidadão. A afirmativa não é minha, tampouco de qualquer dos poderes constituídos ou, ainda, de algum célebre que ocupe ou tenha ocupado qualquer de seus cargos.

Em verdade, ainda que não na literalidade do que eu disse, é a Carta Maior, a Constituição Federal quem unge o povo, logo nós e aqueles que assim não gostam de ser qualificados (mas o são, queiram ou não), os efetivos comandantes do país.

O homenageado, o protagonista dos destinos próprios e grande destinatário dos esforços estatais não é qualquer agente público, de cargo ou grandeza que pense possuir, mas nós, repise-se, povo, que mais do que sustentar a estrutura e pagar salários, temos de nos empossarmos das nossas funções e nos investirmos de nossas prerrogativas.

Penso que não se possa fazê-lo sendo meros telespectadores da própria história, ou reproduzindo da e pela internet, juízos de valor acerca de questões caríssimas à nossa existência e ao nosso futuro o que, com tristeza, tenho percebido ocorrer.

Hoje, o que pauta o exemplo que trago é a tal reforma da Previdência, assim tratada, por tal, tendo em conta a distância de conhecimento a respeito de sua verdadeira senda, pois tudo o que se sabe, e não é efetivamente muito, sequer pouco, vem de opiniões de quem acreditamos tenha lido a proposta e seus também ignorados substitutivos de teor e efeitos inimagináveis.

Não obstante, ao arrepio do conhecimento, do debate com propriedade e noção cívica da importância do tema, pululam as opiniões por corporações e pessoas já taxativas, em suas posições, mesmo tendo somente se abeberado de cacimbas alheias. A nascente ninguém viu, sabe onde fica, tampouco pretende procurar.

Como inúmeras outras matérias já superadas no decorrer da história republicana, mais esta, a previdenciária, segue a tramitar à orla da gritaria dos favoráveis ou contrários que são, logo, os bebedores de seus efeitos.

Ora por rancor ideológico, ora por simpatia com canais televisivos e radiofônicos de predileção, sites simpáticos ou amigos virtuais replicantes de sentenças, manchetes e textos de toda a ordem, recheados de dados impassíveis de confirmação, eis que surge a opinião. E dela o acato ou o rechaço.

Mas a proposta de reforma disso ou daquilo, mesmo, ninguém leu. No máximo ouviu falar. E as águas, em rios, vão passando, sem a atenção devida, muito embora ao alcance de todos.

Como e por quais razões se postarão os representantes votantes, Suas Excelências homens e mulheres do Executivo e do Legislativo, então, já amanhã não se saberá mais. A umidade da memória nacional seca rápido, dispensando sol.

E assim, outras correntes virão, e os rios seguirão passando. Só olhar do barranco a nada represa, tampouco muda curso. É preciso mergulhar e bracear.

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